Dia de doces

Criança canadense, em geral, não come tanto chocolate na Páscoa, como é costume no Brasil. Aqui eles deixam o dia nacional da guloseima para 31 de outubro, o Dia das Bruxas - ou Halloween, como é conhecido por aqui.

Nesse dia - hoje - as crianças vestem fantasias e saem às ruas pedindo chocolates e outras guloseimas de casa em casa. Quando os donos das casas abrem suas portas, as crianças dão um ultimato: "Trick or treat!" (que seria algo como Travessura ou guloseima!). Quase todos dão as guloseimas, e não sei se as crianças estão mesmo preparadas para fazer travessuras com quem não dá doce pra elas. Na dúvida, melhor não arriscar e abastecer a despensa com uns docinhos pra dar pro pessoal.

As crianças menores normalmente saem acompanhadas dos pais ou irmãos mais velhos, que ficam vigiando enquanto se aproximam de cada casa à procura de suas recompensas. As maiorzinhas já saem sós, e algumas extendem esse hábito até o fim da adolescência. Tudo por uns chocolatezinhos.

Depois da "colheita" cabe aos pais uma filtragem e atenção para tudo o que foi recolhido, a fim de identificar qualquer coisa que possa fazer mal aos filhos, bem como estipular um limite no consumo diário das guloseimas para evitar qualquer problema maior com o estômago motivado por uma overdose calórica.

Mesmo quem não têm filhos ou gosta de doce às vezes participa da festa, seja enfeitando sua casa e distribuindo doces, ou então simplesmente andando pelas ruas para observar a movimentação da garotada pela vizinhança. Sem dúvida um quadro bem interessante e diferente do dia-a-dia por aqui, onde às vezes é difícil ver tanta criança nas ruas ao mesmo tempo.

Pessoal de sorte

Muita gente gosta de fazer uma fezinha na loteria, em vários lugares do mundo. Aqui no Canadá, pelo menos em Ontário, isso também é muito comum. Quem gosta de arriscar a sorte tem várias opções, com sorteios diários. Existe loteria onde voce precisa acertar seis dezenas (a popular 6-49), outra onde são quatro dezenas e até uma de sete. Há também as apostas esportivas, onde ao contrário do que ocorre no Brasil, é possível apostar em grupos de apenas três jogos (e não os 13 da Loteria Esportiva do Brasil). Não faltam opções. Mas, como em qualquer lugar do mundo, as chances de se ganhar um prêmio grande também são pequenas. A não ser que você seja dono de uma loja de conveniência que, convenientemente, também venda bilhetes de loteria.

Uma reportagem exibida ontem pela CBC mostrou como um grupo de donos dessas lojas ganharam muito mais do que deveriam nos últimos anos em Ontário, se fossem levadas em conta apenas leis estatísticas. Ao invés dos cerca de 20 donos dessas lojas que deveriam ter ganho prêmios maiores no período - para manter-se a média quando comparada com os índices de premiação para o resto da população -, o número de ganhadores nesse grupo passa dos 200. Segundo o estatístico contratado pela emissora para explicar o fato, as chances de acontecer algo assim por simples acaso, sem nenhuma manipulação, seria de uma em um trilhão, trilhão, trilhão, trilhão (sei lá como se diz esse número, é um 1 seguido de uns 48 zeros). Para esse matemático, qualquer coisa que você possa imaginar é mais plausível de acontecer do que isso, como ser atingido por um raio hoje e por outro na semana que vem.

As autoridades ligadas às loterias na província reconhecem que pode haver irregularidades, mas questionam a reportagem. Ficou meio mal pra eles, que podem perder uma grande fonte de receita se a população simplesmente passar a questionar a idoneidade do processo e deixar de comprar seus bilhetes.

Claro que somente quem arrisca e compra um bilhete tem chance de ganhar na loteria. Mas quando outras pessoas parecem ter mais chance (ou sorte) do que os outros por meio de métodos questionáveis, melhor seria pensar que você pode "ganhar" um prêmio de $100 dólares todo ano simplesmente se deixar de jogar (com a aposta mínima média de $2 por semana).

O planeta pede socorro

O outro dia fiquei assustado com a quantidade de lixo que geramos lá em casa, só eu, minha mulher e meu filho pequeno. Só de fraldas vão umas quatro por dia (quando ele era menor a quantidade era ainda maior). Assino um jornal, que rapidamente se acumula e vira um montinho de uns cinco quilos a cada semana - quem não conhece o jornal de sábado daqui não acredita como isso é possível. Produtos industrializados vêm em caixas, plásticos e garrafas que não acabam mais. E olha que até considero meus padrões de consumo baixos. Pelo menos em comparação a outras pessoas que vejo por aí.

Não por acaso, li hoje que o Canadá é o terceiro país em um ranking sobre o consumo dos recursos naturais, quando levado em conta a média de consumo por pessoa. Carros, alimentos e outros bens de consumo amplamente disponíveis, alto uso de energia principalmente nos meses de inverno para manter casas e prédios aquecidos, e um estilo de vida onde o prático e descartável muitas vezes são privilegiados ajudam a entender como o país atingiu essa posição nada invejável, sendo superado somente pelos Emirados Árabes Unidos (!) e pelos nossos vizinhos do sul, os EUA, na chamada "pegada ecológica" analisada em um estudo publicado por uma organização ambientalista mundial.

Segundo o relatório Planeta Vivo, do WWF, o Brasil até que não está tão mal, aparecendo mais próximo da média mundial de consumo e bem abaixo dos exagerados países desenvolvidos. No caso brasileiro, bem como a de outros países em desenvolvimento, o problema maior fica por conta da perda de biodiversidade - algo que os países desenvolvidos há muito já perderam e não têm muito mais para perder. O preocupante é que mesmo o padrão de consumo brasileiro está acima do que o planeta poderia suportar. E o pior, os padrões de consumo da maioria dos países que ainda estão na parte de baixo da lista está crescendo, o que aumenta a "pegada ecológica" deixada por cada um de seus habitantes. Imaginem só uma China com seu bilhão de habitantes consumindo recursos do jeito que os americanos e canadenses o fazem. Socorro!

Em todo caso, vou tentar diminuir meus hábitos de consumo daqui pra frente. Não sei se vai fazer muita diferença - provavelmente não -, mas pelo menos posso dormir um pouco mais tranqüilo por estar fazendo minha parte. E o Rafa que trate de aprender a usar o penico!

Direito de voto para imigrantes?

O prefeito de Toronto, David Miller, lançou uma nova idéia que até faz sentido a primeira vista. Permitir que imigrantes que ainda não são cidadãos canadenses possam votar nas eleições municipais. O raciocínio de Miller é que os imigrantes são afetados diretamente pelas decisões políticas municipais, e não têm o direito de se manifestar nas urnas sobre as propostas que julgam mais adequadas para si.

Alguns bairros, segundo o prefeito, têm grande concentração de imigrantes que não podem votar por ainda não contarem com a cidadania canadense. Os políticos municipais poderiam optar por privilegiar outros bairros, já que os imigrantes não teriam como reclamar das decisões contrárias a seus interesses. Para o prefeito, o fato fica ainda pior devido à lei municipal permitir que canadenses que sequer moram na cidade possam votar nas eleições municipais se tiverem alguma propriedade na região. Miller defende a mudança apenas no nível municipal, e não no federal - que continuaria exigindo a cidadania canadense dos eleitores.

O anúncio dessa nova intenção de Miller acontece em meio a uma acirrada batalha política em Toronto. As eleições municipais em Toronto estão marcadas para 15 de novembro. Ontem, em um debate na TV, Miller e seus dois principais adversários trocaram farpas e acusações, baixando bastante o nível das discussões. Qualquer mudança que permitisse aos imigrantes não-cidadãos o direito de voto nas eleições municipais precisaria ser aprovado pelas autoridades eleitorais da província de Ontario.

Pessoalmente acho que o argumento de bairros inteiros sendo discriminados apenas pela questão da concentração de imigrantes é razoável. Ao mesmo tempo, acho que o Canadá já concede facilidades o suficiente que permitem a um imigrante tornar-se cidadão do país em relativamente pouco tempo, dando a ele a chance de participar mais efetivamente da política local ou nacional se assim o desejar. Não acho que a única solução seja essa extensão do voto aos imigrantes não-cidadãos. Mais eficiente seria uma organização dessas comunidades que se julgam prejudicadas para que seus membros que já adquiriram a cidadania pudessem expressar mais efetivamente nas urnas os seus desejos que estivessem em comum com o restante da comunidade. No mais, parece típica conversa eleitoreira.

Ar limpo?

O mundo está indo pro buraco. Sim, não adianta chorar nem espernear, as mudanças climáticas estão aqui e mesmo que o homem mude radicalmente sua forma de vida e consumo daqui pra frente, muito do estrago já está feito e sentiremos seus efeitos nas próximas décadas, ou melhor, nos próximos anos. Diante de tal cenário desanimador, o que fazer? Desistir logo e continuar vivendo sem respeitar o planeta, já que essas mudanças são irreversíveis? Ou tentar mudar para limitar os danos ao estrago já feito, torcendo para que essa mudança de atitude possa controlar o problema a curto prazo e estabilizá-lo a longo prazo?

O governo canadense parece ter escolhido a primeira opção. Ontem foi anunciado um novo plano do governo em relação à emissão de gases poluentes que simplesmente joga o acordo de Kyoto - assinado pelo Canadá - no lixo e sugere novas medidas para reduzir a emissão de poluentes pela metade. Até 2050!

Sim, é verdade que as medidas sugeridas em Kyoto não foram tão práticas assim e muitos podem argumentar que eram mais retórica que qualquer outra coisa. Porém, o Canadá assinou o tratado e o desrespeitou. Teria que chegar a emissões 6% abaixo dos níveis de 1990 até 2012. Atualmente, emite 30% a mais de poluentes do que há 16 anos atrás, e não teria como reverter o quadro nos próximos seis anos para chegar ao patamar exigido pelo acordo. Ao propor um novo plano com uma meta a longuíssimo prazo, o governo simplesmente oficializa esse desrespeito com o compromisso assumido anteriormente. Empurra também com a barriga o problema até pelo menos 2020, quando começaria a fase do projeto canadense que realmente exigiria o início das reduções nas emissões de poluentes.

Como disse o líder do Bloc Québécois, Gilles Duceppe, o projeto parece ter sido feito em Alberta - província com grande interesse da indústria do petróleo, e onde o primeiro-ministro Stephen Harper fez sua carreira política -, depois de ter sido escrito em Washington - os EUA não assinaram o tratado de Kyoto.

Seja como for, fica difícil acreditar em uma solução para reduzir efetivamente as emissões de poluentes. Vamos mesmo para o buraco.

Pizza no metrô

Já tinha um tempo que queria mencionar isso mas só lembrei hoje. Começou a rolar de novo neste outono uma campanha para a United Way (uma entidade de caridade), promovida pelo sistema de transporte público aqui de Toronto - o TTC - e uma empresa que vende pizza - a Pizza Pizza. Todas as quartas-feiras, funcionários da TTC vendem pedaços de pizza nas principais estações de metrô da cidade. O pedaço é vendido por $1, e a procura e aceitação são enormes. Eu mesmo, sempre que passo por uma das mesas onde estão servindo as pizzas, compro uma fatia pra ir comendo no metrô.

Nas lojas da Pizza Pizza o mesmo pedaço é vendido por $1,50. Ou seja, o consumidor também sai ganhando e ainda ajuda uma causa comprando suas fatias nas estações de metrô. Não sei muito bem se o pessoal está doando o valor integral da venda ou descontando o preço de custo e doando só o lucro. Mesmo que a empresa retire o preço de custo do total arrecadado, ainda acho que dá uma boa soma para ser doada. E o pessoal aproveita pra encher a barriga na volta do trabalho, ajudando a segurar a fome até a hora do jantar - ou jantando só pizza mesmo nesse dia, a caminho de casa.

Lotação perigosa

Confesso que já andei em carro lotado, com dez pessoas onde cabiam somente cinco. Era jovem, inconseqüente. Já andei em caçamba de caminhonete, completamente solto e pronto pra ser arremessado pra fora do veículo no caso de qualquer acidente. Na verdade, durante minha infância e primeiros anos de adolescência, os carros nem tinham os cintos "de três pontos" que são comuns em veículos atualmente. Limitavam-se a cintos que prendiam a cintura, e não faziam muito para justificar seus nomes de cintos de "segurança".

Nunca na época tinha me preocupado muito com as possíveis conseqüências que um acidente naquelas condições poderia ter, e até sobrevivi a um acidente junto com minha mãe quando era pequeno apesar disso tudo. Porém, ao entrar em um carro hoje em dia certamente me preocupo mais com essa questão. Não sei se isso se deu porque cresci, porque os carros passaram a ter mais componentes de segurança, se aumentou a propaganda informando sobre esses componentes ou as campanhas de conscientização. Talvez um pouco de tudo.

Por isso, foi com grande surpresa que fiquei sabendo este fim de semana que as leis de trânsito daqui da província de Ontário não impedem que um carro carregue mais passageiros do que o número para o qual o veículo foi projetado. No sábado, uma van com capacidade para sete pessoas se envolveu em um acidente enquanto carregava o motorista e mais nove passageiros - turistas coreanos. Ou seja, mesmo que todos os cintos de segurança estivessem sendo usados, três pessoas estariam sendo transportadas legalmente sem uso do cinto. Infelizmente o acidente terminou gravemente, com quatro mortes e os outros seis ocupantes seriamente feridos.

Agora a imprensa e as autoridades questionam se a lei de 30 anos não deveria ser alterada, para exigir que todos os passageiros de um veículo usassem cinto. Pena que precisou acontecer um acidente assim para chamar a atenção para este problema.

Casas de papel?

Claro que não chega a tanto, mas às vezes acho que o pessoal aqui mora em casas de papel. No máximo de madeira e palha, como aquelas da estória dos três porquinhos. Tudo por causa do estilo diferente das construções aqui, onde as paredes precisam ser "ocas" para que o material isolante térmico possa ser colocado por dentro, impedindo assim que o calor dos aquecedores seja perdido para o exterior no inverno. As casas do Brasil, de concreto, tijolo e cimento, simplesmente seriam muito frias para aguentar os meses com temperaturas negativas por aqui.

Os modelos das casas funcionam perfeitamente para o clima daqui. Na verdade, já senti muito mais frio no Brasil, com 8 ou 10 graus acima de zero, do que aqui com -20C. Afinal, quando vou tomar banho aqui estou no calorzinho da minha casa seja lá a época do ano que for. Geralmente em torno dos 20 graus, com água quente bem mais eficiente que a proporcionada pelos chuveiros elétricos que tinha em casa no Brasil. Na hora de dormir, a mesma coisa. Se não chega a ser quente durante o inverno - precisamos sempre de um cobertorzinho -, também não é tão frio quanto algumas noites no Brasil (dentro do quarto, claro).

Como decorrência do material usado nas casas daqui, todas as construções prestam atenção especial às medidas de segurança, principalmente no que diz respeito a medidas contra incêndio. Os materiais usados em geral no isolamento das casas são bastante inflamáveis, e um incêndio normalmente não deixa pedra sobre pedra em uma casa, mesmo porque elas são feitas de madeira e plástico. Em fotos de casas incendiadas é comum ver somente a estrututra da chaminé em pé depois do fogo devastar o restante da casa.

Como não é possível impedir totalmente a ocorrência de incêndios, pelo menos as autoridades tentam minimizar as perdas de vidas. E, por isso, estipulam uma série de regras que devem ser sempre seguidas por casas ou prédios. Uma delas diz respeito aos alarmes de incêndio, sempre presentes no interior das construções desta terra. Em apartamentos é comum ter um alarme para fumaça e outro para o calor. Dependendo da duração e condições nas quais o alarme for acionado, o quartel mais próximo do Corpo de Bombeiros é avisado, e prontamente chegam os caminhões e bombeiros com toda sua parafernália para conferir o que aconteceu. Felizmente, em grande parte dos casos o alarme é falso, provocado por alguma coisa que queimou na cozinha.

Tive um amigo que morava em um apartamento com alarme super sensível, que chegava a tocar quando ele fazia uma simples torrada na torradeira (e sequer queimava a torrada ou via qualquer fumaça aparente saindo do aparelho). Cuidado, portanto, na hora de fazer sua próxima macarronada ou bife na chapa. Afinal, você não vai querer pagar o mico de ter um bombeiro abrindo sua porta apenas para ver o que você fez para o jantar, não?

Eita friozinho gostoso

Tem gente que não gosta. Ou melhor, tem muita gente que não gosta. Mas a verdade é que eu gosto do friozinho característico da maior parte do ano neste país do norte. O verão é relativamente curto, mas a meu ver o calor mesmo assim às vezes é insuportável. Afinal, as casas são preparadas para o inverno, e no verão ficam parecidas com fornos. Sorte de quem tem ar-condicionado, o que não é meu caso.

Enfim, pelo menos o frio já começa a dar as caras por aqui. De manhã na casa dos dez graus e sem passar dos quinze à tarde. Esta manhã, oito graus. Agora, quatro - com sensação térmica de -2. Pra completar o cenário quase perfeito, começaram a cair flurries agora há pouco. Para quem não sabe, esses são pequenos grãos de neve que não chegam a formar flocos, nem se acumulam no solo. Foi bem rápido, durou cerca de 15 minutos apenas, mas já serviu como sinal claro de que o inverno vem aí.

Brasileiros revoltados com jornalista do NYT

Há uma semana atrás acontecia o terrível acidente envolvendo um boeing da Gol e um jatinho comercial Legacy da Embraer comprado por uma empresa americana, que culminou com a morte de 155 pessoas. Nesta semana que passou vimos toda a dor dos familiares e amigos das vítimas. Além disso, as autoridades brasileiras vêm tentando estabelecer a razão para o acidente, e cogita-se que os pilotos americanos do jatinho possam ter sido os responsáveis pelo acidente.

Não cabe aqui determinar de quem é a culpa, mas parece que uma série de contradições nos depoimentos dos passageiros do avião menor com os dados que foram coletados posteriormente podem deixar os pilotos sobreviventes em apuros. Um dos passageiros do Legacy era um jornalista do New York Times, e chegou a escrever um artigo para o periódico, ressaltando a bravura dos pilotos e lamentando pelas vítimas. Mas, segundo reportagens que tem saído na imprensa brasileira, o texto e declarações que ele também deu a um programa da NBC nos EUA iriam contra o depoimento oficial dado à polícia logo após o acidente.

Logo se criou um verdadeiro circo na blogosfera, com centenas de brasileiros invadindo o blog do jornalista para criticá-lo e ofendê-lo, às vezes de maneira excessiva. Interessante ver como algumas pessoas reagem diante de fatos assim, e como outros não perdem uma chance para usar a Internet para mostrarem suas opiniões. Sem dúvida, mais um caso do encolhimento do mundo com a globalização.

Infelizmente nada trará as vítimas de volta. Que estejam em paz neste sétimo dia depois de deixarem este mundo. E que suas famílias e conhecidos também encontrem o caminho para aceitar esta triste perda.

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UPDATE: As coisas ficaram tão sérias em termos de mensagens e ameaças que o jornalista decidiu apagar as mensagens antigas em seu blog e colocar três novos itens sem direito a comentário, onde ele se defende das acusações de que tem sido vítima. Para todos os efeitos, é importante lembrar que nada ainda ficou provado sobre possíveis culpas no acidente, e que o jornalista em questão era um passageiro do jato menor, sem possibilidade de interferir com seu curso. Mesmo que depois se verifique que mentiu à polícia, não se transformaria em assassino (como alguns chegaram a chamá-lo). As pessoas precisam ver que um blog, apesar de virtual, é feito e lido por pessoas reais, e os comentários devem ter o mesmo tratamento dos feitos no mundo real. Da mesma forma, o jornalista deveria tomar mais cuidado ao escrever sobre algo que continua sendo investigado, pois suas declarações podem ser derrubadas posteriormente por essas investigações.

40 anos na fila

Começa hoje mais uma temporada da liga norte-americana de hóquei no gelo, a NHL. Trata-se do esporte mais popular do Canadá, e esta é a liga onde estão as principais estrelas do esporte. A liga tem 30 times, sendo que seis deles canadenses e 24 americanos. Funciona do mesmo jeito que as outras "grandes ligas" americanas, como a NBA (basquete), NFL (futebol americano) e MLB (beisebol). Claro que para os canadenses em geral, e para os imigrantes que tentam se adaptar à cultura local, a liga mais importante é a NHL.

O curioso é que o time da maior cidade canadense, o Toronto Maple Leafs, está em uma seca enorme de títulos. Há nada menos que 39 anos que o time não sabe o que é um título. E como a final da liga este ano acontece só em junho do ano que vem (a temporada sempre vai de outubro a junho), o time vai completar 40 anos sem título em maio. Quatro décadas. Os fiéis torcedores azuis (que me perdoem os corintianos, mas estes sim é que são fiéis) continuam lotando o ginásio do Air Canada Centre cada vez que o time joga, pagando ingressos caríssimos nos 41 jogos da temporada regular e outros tantos dos playoffs (quando o time se classifica, o que não aconteceu na temporada passada, por exemplo).

Desde 1967, ano do último título, o homem foi à Lua, o Brasil ganhou mais três Copas do Mundo (1970, 94 e 2002), a TV virou a cores e depois de alta definição, o regime militar acabou no Brasil e a Guerra Fria no mundo. Eu nasci, cresci e vim morar aqui, e o time ainda não ganhou.

Parece que no ano do último título, um dos jogadores ganhou duas garrafas de champanhe e disse que abriria uma quando o time ganhasse outro campeonato e a outra quando completasse 50 anos de casado. Nunca pensou que a segunda seria aberta antes que a primeira. Pois em 1998 ele completou os 50 anos de casado e abriu a segunda garrafa. A primeira continua fechadinha, e talvez só venha a ser aberta pelos filhos ou netos do jogador.

Mas como todo mundo começa empatado no início da temporada, sempre há a chance de o time ganhar. Esta noite a estréia acontece no Air Canada Centre, contra os rivais da província de Ontario, Ottawa Senators. Pra quem quiser assistir em casa, a partida será transmitida a partir das 19h30, pelo canal TSN (canal 30 da Rogers).

Recomendo assistir o jogo pela TV e, se tiverem a chance, ao vivo no ginásio algum dia. O ritmo é alucinante, e a emoção é quase sempre maior do que a de um jogo de futebol. Afinal, nada como entender um pouco mais da paixão do pessoal daqui pra poder se enturmar melhor nesse novo país, não?

As eleições por aqui

Como tinha dito na semana passada, o consulado brasileiro em Toronto foi o ponto de votação no domingo para os brasileiros que moram por aqui e transferiram seu título de eleitor. Nesta minha primeira votação fora do Brasil, tive uma experiência muito boa e tranqüila, bem diferente de algumas das votações das quais já tinha participado no Brasil.

Pra começo de conversa, por aqui só precisamos votar no presidente. Ou seja, nada de ter que escolher governador, deputado estadual, federal e senador. Com isso, como tinha previsto, a fila andava muito rápido. Aliás, nem tinha fila quando fui votar, no final da manhã.

O serviço até estava bem organizado, com uma mesinha logo no saguão do prédio onde fica o consulado, onde a pessoa já apresentava seu documento e recebia um papel de uma cor, indicando a seção onde votaria (as seções eram em salas diferentes do consulado, que fica no 11º andar do prédio). Depois, com o papel na mão, era só esperar o elevador e ir até o consulado. Chegando lá a pessoa na entrada via a cor do papel na mão do eleitor e dizia pra qual sala ele deveria ir. Mostrando o título, assinando o papel, era só ir pra urna e digitar os dois algarismos do candidato e confirmar o voto. Tudo muito rápido.

Como ninguém conseguiu vantagem acima de 50% neste primeiro turno, teremos um segundo turno em 29 de outubro. Mais uma vez, só precisaremos votar no presidente. E muita gente no Brasil vai ter o mesmo gostinho desta eleição mais rápida. Afinal, nos estados brasileiros onde o governador já levou a eleição no primeiro turno, o segundo turno também vai incluir somente a votação presidencial.

Seja lá quem for que ganhe as eleições, espero que faça um trabalho melhor do que o atual governo. Mesmo que seja o Lula quem seja reeleito, espero que tenha um pouco mais de vergonha na cara e não cometa tanta bobagem quanto nestes primeiros quatro anos. E se for o Alckmin, que não faça as mesmas trapalhadas do governo anterior do PSDB.