Fugindo da muvuca

É sempre assim. Fim de ano, época de Natal, e toda a população do Norte gelado deixa seus iglus para se aventurar nos templos de consumo dos shopping centers (ou malls, como são conhecidos por aqui). Já no estacionamento é difícil garimpar uma vaga onde deixar seu carro (de metrô ou ônibus vive-se o sentimento de compartilhar o espírito natalino de perto - muito perto - com as centenas de outras pessoas que tiveram a mesma idéia).

Não gosto muito do aspecto comercial do Natal de dar e receber presentes. Mais vale uma congregação em família, com os amigos ou ajudando desconhecidos do que simplesmente a preocupação com listas intermináveis de presentes e pessoas com a ingrata obrigação de não esquecer ninguém. Lá em casa só as crianças costumam ganhar presentes, porque também não quero ficar conhecido como o Grinch ou Scrooge - que odiavam Natal e queriam estragar o dos outros também. Até gosto do Natal, só não deste consumismo todo.

Mas não é porque é Natal que a sua casa não precisa de uma lâmpada nova, a pia não precisa de um remendo ou a cozinha de uma lata de lixo zero-bala. Coisas normais da manutenção de uma casa continuam acontecendo durante o mês de dezembro da mesma forma que aconteciam nos outros meses do ano. Seu filho também perde luva e gorrinho de frio, ou sua bota abre um furo no meio de uma nevasca. Então lá vai você para as lojas, atrás desses itens normais do dia-a-dia. Mas o que seria uma comprinha rápida, de meia hora, leva uma eternidade. Entre tapas, empurrões, filas e multidões de darem inveja ao Maracanã em dia de Fla-Flu, você finalmente acha tudo que precisava, paga e volta pra casa, prometendo só sair de casa de novo em janeiro.

Se precisar comprar mais alguma coisa este mês vou ao supermercado de madrugada. Ou domingo bem cedinho vou ao Walmart praquelas coisas que não achar no supermercado.

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Pelo fim das câmaras de gás móveis

Quer fumar? Já falei, vai fumar sozinho lá no meio de um descampado sem ninguém por perto. Se está -10 ou -20 lá fora não é problema meu, que mandou querer se matar aos poucos com fumaça no pulmão?

O premiê da província de Ontário está vendo com bons olhos uma nova proposta que vai proibir o fumo dentro de carros particulares. O quê? Aí já é exagero, proibir e regular a vida dos fumantes dentro dos próprios carros, podem pensar os mais exaltados. Calma, a proibiçao vale apenas para os carros que estiverem transportando crianças. Afinal, dizem os especialistas, uma hora em um carro fechado com alguém fumando equivale ao consumo de um maço de cigarros para uma criança pequena. Tá doido, é uma verdadeira câmara de gás móvel...

Ou seja, se você tem filho, sobrinho, primo, neto, etc menor de 16 anos e ele estiver no carro contigo, nada de cigarro (e imagino, cachimbo, charuto e afins). A proposta de lei ainda não foi votada e o premiê não disse com todas as letras que era favorável à proibição, por não querer se meter em assuntos relacionados à vida pessoal de cada um. Mas como as crianças dos fumantes normalmente não têm como escapar de serem defumados no carro dos adultos irresponsáveis, ele já acena com apoio ao debate em torno da medida.

O argumento de que o carro é um local particular e privado, onde cada um pode fazer o que bem entende não cola pra mim. Afinal, se fosse assim a pessoa podia deixar de usar o cinto de segurança e dizer que o carro era dela e ela fazia o que bem quisesse em seu interior.

E você, o que acha? Vale mais o direito à privacidade e escolha de cada um (se é que isso se aplica aqui) ou a saúde dos pimpolhos?

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Cidade violenta?

Tudo é relativo. Em comparação ao resto do Canadá, Toronto é uma cidade muito violenta. Mas se compararmos com outras metrópoles de tamanho equivalente no resto do mundo, veremos que não é tão violenta assim.

Pois vejamos. O recorde de assassinatos na cidade é de 89 homicídios em um ano, no distante 1991. Este ano se aproxima perigosamente da marca, com 80 já registrados em 2007 (o ano está acabando, mas a marca pode ser alcançada). Antes que você se desespere e ache que está em pleno tiroteio perto de uma favela carioca (ou sendo seqüestrado em São Paulo, Brasília, Belo Horizonte ou qualquer outra grande cidade brasileira, pra não me chamarem de preconceituoso com a cidade maravilhosa), pense um pouco no que isso representa. Não chega a dois assassinatos por semana, em toda a cidade. Se esse número fosse registrado em uma das maiores cidades brasileiras, seria motivo de preocupação? Ou de festa?

A polícia daqui, claro, anda muito preocupada com os níveis de violência. Mas tenta tranqüilizar a população dizendo que a maioria das vítimas vivia de forma perigosa, envolvida com gangues, tráfico, mexia com armas, etc. De fato, a maioria dos incidentes se concentra em certas áreas menos nobres da cidade, notórias pela violência, pobreza, falta de oportunidades e descaso das autoridades.

Mas vez ou outra sobra pra alguém como a adolescente morta em pleno centro de Toronto na época do Natal há dois anos atrás. Sem envolvimento nenhum com o crime, em local super movimentado e aparentemente seguro, ela estava apenas no lugar errado e na hora errada. A polícia devia lembrar mais da estória dela e não achar que o crime e os assassinatos são setorizados e contidos apenas entre criminosos. Os criminosos têm que morar em algum lugar, e nem todos seus vizinhos são criminosos também. Sempre sobra pra um inocente.

Mesmo sem os níveis de violência do Brasil, Toronto precisa se esforçar para continuar apresentando os níveis de violência (ou tranqüilidade) do Canadá.

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