Aviões e aeroportos

Ando com medo de aviões e aeroportos. Nem tanto de estar dentro de um que venha a ter um acidente, mas sim de ter que passar pela via-crúcis de pegar um simples vôo dentro do Brasil. Nos últimos dois meses se acumulam as notícias dos atrasos e do caos que tomou conta do transporte aéreo no país, a partir do acidente com o vôo da Gol que deixou mais de 150 mortos. A situação é complexa, causada por anos de desleixo que levaram a um ponto insustentável onde o tráfego supera a capacidade de acompanhamento em níveis razoáveis de segurança. O acidente assim não foi mera fatalidade, mas sim algo que estava para acontecer há tempos, segundo os vários relatos que se seguiram de quase-acidentes entre diversas aeronaves que cruzam os céus brasileiros a cada dia.

Não que isso pudesse me afetar diretamente, já que estou morando a milhares de quilômetros de distância. Mas ainda mantenho ligações fortes com o país, tenho amigos e parentes que fazem uso desses serviços de maneira freqüente e sofrem com o problema. E sim, em uma decisão da qual agora me arrependo decidi passar o fim de ano no país - a bem da verdade, decisão esta tomada antes de os problemas virem à tona.

Só espero que o caos profetizado para estas viagens de fim de ano não se concretize, ou pelo menos não no grau que estão prevendo.

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Ainda relacionado a aviões, uma senhora provocou um pouso de emergência na semana passada nos EUA depois de um ataque de "flatulência" durante um vôo que ia para a cidade de Dallas. Isso mesmo, você não leu errado. Depois do 'incidente' inicial, a senhora resolveu riscar um palito de fósforo discretamente para disfarçar o odor desagradável. Porém, outros passageiros que não sabiam de onde vinha o cheiro exalado pelo fósforo prontamente avisaram os comissários de bordo, que temendo a existência de algum artefato explosivo na cabine orientaram os pilotos a fazerem um pouso forçado.

O avião aterrissou em Nashville, e os cerca de 100 passageiros foram interrogados pela polícia. Não sei se ela estava com a mão amarela, mas a senhora responsável por todo o transtorno acabou confessando o que fez - muito mais envergonhada do que poderia ter ficado se simplesmente fosse descoberta depois do incidente inicial. Ela não foi presa, mas também não deixaram que ela embarcasse no vôo para seguir viagem depois que o caso foi esclarecido.

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Bom, saio de viagem hoje e volto em janeiro. Por isso mesmo o blog vai ficar meio paradão. Boas festas a todos e até a volta.

Bem que eu desconfiava

O outono deste ano não me pareceu muito normal. Parece que fez mais frio e choveu mais do que no ano passado, e já tinha comentado isso com alguns colegas e amigos.

Agora, recebo a confirmação oficial de que o outono foi atípico mesmo. Segundo o Environment Canada, órgão do governo que cuida das questões ligadas ao tempo (meteorologicamente falando), o período de três meses entre setembro e novembro neste ano foi o que teve menos luz direta solar na província de Ontário nos últimos 29 anos. Como naquela época nem pensava em morar aqui, não posso dizer que me lembro com detalhes de como o outono de 1977 foi sombrio na província.

Pra se ter uma idéia, em média a província recebe 475 horas de luz solar direta nesses três meses. Este ano, o número de horas ficou em 343. Segundo os especialistas, pra quem gosta de sol - caso da maioria - a redução de 130 horas de luz solar em relação a média pode ter contribuído para que os mais susceptíveis pudessem sentir-se mais deprimidos que o normal, não aproveitando tanto a estação quanto deveriam em anos mais próximos da média.

Essa falta de sol foi provocada principalmente pelo excesso de chuva. Em Toronto choveu 270mm nesses meses, contra uma média de 211mm.

Que venha o inverno, quando pelo menos faz sol quando está muito frio. Ontem e hoje, por exemplo, tá um sol de lascar! Só tenho que arrumar um jeito de pegar um bronzeado sem morrer congelado com temperaturas como a de ontem, quando a sensação térmica beirou os -20C.

Apelo aos sentidos

Não há mesmo limite para a criatividade dos publicitários. Em San Francisco, na Califórnia, uma empresa responsável pela exploração de painéis publicitários em pontos de ônibus decidiu inovar em uma campanha para tentar vender leite. Colocou fitas junto à propaganda que exalavam cheiro de biscoitos. Explica-se: na América do Norte é muito comum comer biscoitos - particularmente os doces, recheados - acompanhados por um copo de leite. A idéia era de levar as pessoas a associarem o cheiro à vontade de tomar leite, e o fazerem assim que tivessem a primeira oportunidade.

Mas um dia depois da instalação dos painéis a empresa se viu forçada a retirá-los. Não por acharem que a empresa tinha ido longe demais na sua tentativa de convencer consumidores a comprar um determinado produto. Mas simplesmente porque houve medo de que alguns usuários do sistema de transporte coletivo da cidade pudessem ser alérgicos a alguns dos componentes usados na fita que exalava o cheiro. Por via das dúvidas, os painéis foram retirados.

Agora só falta fazerem o mesmo com as páginas de algumas revistas que veiculam propagandas embebidas em perfumes fortíssimos, de cheiro nem sempre agradável.

Você ainda sabe escrever à mão?

Os computadores simplesmente revolucionaram o mundo na última década. Facilitaram a vida em muitos casos, encurtaram distâncias em outros, turbinaram a marcha de um mundo globalizado em uma nova era da informação. Mas os computadores também fizeram com que eu esquecesse como escrever à mão.

Não é bem que eu não saiba mais como fazer isso. Mas é que minha caligrafia, que nunca foi lá grandes coisas - a ponto de uma professora de segundo grau pedir que eu escrevesse minhas provas em letra de forma, para facilitar sua correção - piorou ainda mais. Se anoto algo, preciso rapidamente passar a informação a limpo sob risco de não entender minha própria letra no dia seguinte.

Tudo que escrevo é no computador ou no celular. A escrita à mão fica limitada à assinatura nos recibos do cartão de crédito, ou então ao preenchimento de cheques - com letra de forma, claro. Aonde será que vou parar? Melhor me forçar a escrever algumas poucas páginas, ou mesmo poucos parágrafos, de vez em quando, só pra me prevenir. Aonde é que guardei aqueles cadernos de caligrafia?

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Exageros à parte, pelo menos tive uma formação na qual aprendi - à força - a escrever relativamente bem e rapidamente à mão. Mas os adolescentes de hoje, pelo menos aqui no Canadá, estão enfrentando um problema maior. Por causa do aumento no uso do computador, estão deixando de ter um importante aprendizado e prática da escrita à mão durante anos de formação. Como resultado, alguns chegam à universidade e às vezes têm dificuldade até para se lembrar como se faz um 'T' ou 'i'. Os professores, que precisam pelo menos forçar os alunos a escreverem algumas provas à mão livre (para evitar 'colas' no computador), se vêem em maus lençóis tentando decifrar os hieróglifos do pupilos. Minha vó, que sempre gostou de destacar a importância de uma letra e caligrafia bonitas, deve estar tremendo de raiva.

Vale-presente

Final de ano no Brasil era sempre a mesma coisa, seja em casa, na escola ou, depois, no trabalho. Alguém dá a idéia, os outros gostam e aceitam e em pouco tempo organiza-se um famoso 'amigo oculto'. Uma bela saída para quem gosta de comemorar a data dando - e recebendo - presentes e não tem $tempo$ para comprar um presente para todo mundo. Aqui no Canadá também existe a prática do 'Secret Santa' ou 'secret friend.'

Discos, livros, roupas, tudo isso é muito adequado para essas ocasiões, pois existem em grande variedade e acabam por agradar a - quase - todo mundo. Porém, como escolher um presente para aquele primo de sétimo grau que se mudou pra cidade na semana passada e foi convidado pra festa por educação, mas que ninguém tem a menor idéia de quem ou como seja? Ou ao chefe que nunca fala direito com ninguém e não dá pistas sobre suas supostas preferências pessoais em termos de livros ou música?

Não se desesperem. Seus problemas acabaram! Dê um vale-presente de uma loja onde tenha basicamente de tudo, que o presenteado pode ir lá por conta própria e escolher uma coisa que realmente deseja. Bom para quem ganha, melhor para quem dá, que não precisa quebrar a cabeça para achar um presente que no final ainda teria tudo para desagradar o presenteado. Claro que o vale-presente não é uma solução muito adequada se a pessoa que vai recebê-lo for alguém próximo, um amigo, irmão ou cônjuge - aliás, ex-cônjuge em breve, se continuar assim. Mas para alguém desconhecido em uma festa de confraternização, ele se torna o presente perfeito.

Parece que os comerciantes locais notaram isso - claro - e no ano passado nada menos que 82% das maiores lojas do Canadá colocaram vales-presentes à disposição de seus clientes, segundo um estudo do IBGE canadense, a Statistics Canada. Como resultado, venderam quase o dobro, em média, daqueles que não quiseram dar mais essa opção de produto aos seus clientes. Segundo o estudo, os principais compradores foram aqueles que não têm tempo ou não sabem o que dar para seus conhecidos. E as pessoas que receberam usaram esses vales não só para comprar produtos no valor dos mesmos, mas também para complementar a compra de produtos mais caros que talvez não tivessem comprado sem a "ajudinha". E assim roda a economia.

- Saiba mais sobre esse relatório no site da Statistics Canada.