A invasão

O dólar canadense anda bem forte, valendo mais que o dólar americano. Bem, na verdade o dólar americano é que anda fraco, se desvalorizando diante de tudo, se bobear até diante dos guaranis paraguaios. Os economistas daqui não esperavam uma valorização tão rápida, e não sabem se o fenômeno vai continuar, se agravar ou sofrer uma inversão nos próximos meses. Alguns empresários temem que um dólar canadense muito forte prejudique a economia, que depende das exportações para os EUA, os maiores clientes de produtos canadenses.

Mas enquanto isso, no dia-a-dia o que essa inversão do câmbio tem provocado é uma verdadeira corrida de canadenses aos Estados Unidos. O movimento é grande todos os dias, acentuando-se nos fins de semana. Pequenas e médias cidades americanas perto da fronteira lidam com a invasão como podem, mas é freqüente ver os estoques nas prateleiras das lojas simplesmente acabando no meio da tarde, tamanha a sede com que os compradores canadenses vão ao pote. Roupas, livros, eletrônicos, nada escapa aos olhares atentos dos consumidores loucos atrás de uma pechincha.

Mas será que a economia vale a pena? Por conta do excesso de pessoas cruzando a fronteira, as autoridades canadenses não dão conta do movimento, e os viajantes estão enfrentando longas filas na volta para o Canadá, onde têm que declarar tudo o que compraram e pagar os impostos devidos. Ou seja, você viajaria duas ou três horas, passaria mais quatro na alfândega, para comprar umas camisas e calças e economizar uns $40 no fim do dia?

Claro que a diferença vale mais a pena quando os produtos são mais caros, como carros e eletrônicos de grande porte (uma TV de alta definição, por exemplo). Mas você pode enfrentar mais dor de cabeça se precisar de algum conserto ou garantia que nem sempre são aceitos no Canadá para produtos comprados nos EUA. E, no caso dos carros, algumas montadoras chegaram inclusive a proibir a venda para canadenses, a fim de proteger os interesses das revendedoras ao norte da fronteira.

Uma verdadeira maluquice. Pessoalmente acho que se não estou precisando de alguma coisa, não tem economia de $300 que me faça gastar $1500. Lembrei do meu tio, que sempre falava quando minha tia queria aproveitar uma promoção "incrível": "Ela não poupa gastos pra fazer uma economia."

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