Voto simples

Domingo é dia de votação no Brasil e também por aqui, para os brasileiros que transferiram seu título de eleitor para o exterior. Em Toronto o Consulado do Brasil será o posto de votação, funcionando das 8h às 17h. Espero não encontrar grandes filas por lá, apesar de achar difícil.

Pelo menos o voto por aqui será simples. Só precisamos votar para presidente, sem precisarmos - na verdade, sem podermos - votar em governador, senador, deputado federal e estadual. Facilita pois não precisaremos da famosa 'cola' que muitos levam para a urna no dia da votação, e a própria votação deve ficar mais rápida.

Egoisticamente cheguei a pensar que seria melhor que a eleição se resolvesse no primeiro turno, pra não precisar enfrentar tudo de novo daqui a um mês. Mas agora já acho melhor um segundo turno, para que o ganhador não fique se achando o dono do pedaço com ampla aprovação - ilusão esta que poderia ser criada com uma vitória muito folgada já no primeiro turno.

Ah sim, quem não transferiu o título e está no exterior pode justificar depois. Mais informações no site do Consulado do Brasil em Toronto, e no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Canadenses vão descobrindo o açaí

Vi o outro dia em uma reportagem da revista semanal Maclean's que os canadenses estão descobrindo o brasileiríssimo açaí. A correspondente da revista no Rio, Isabel Vincent, fez uma matéria contando os principais benefícios da fruta e explicando como ela é consumida no Brasil. Os canadenses estão espantados com os componentes antioxidantes do açaí, e também estão prestando atenção em suas características energéticas. O alimento milagroso, segundo a matéria, poderia até combater alguns tipos de câncer. Dessa eu não sabia. Claro que uma empresa já até começou a importar a fruta pra cá, apesar de eu ainda não ter visto pra vender por aqui. Esse interesse súbito parece ter sido desencadeado por uma recente exposição na mídia americana. Tudo porque a Oprah Winfrey - uma apresentadora de televisão famosa dos EUA - indicou o açaí com um dos alimentos essenciais para uma vida saudável. Depois do guaraná, vem aí o açaí pra servir de embaixador brasileiro por estas bandas.

Turista não vai mais receber imposto de volta

E o primeiro-ministro canadense Stephen Harper continua dando seqüência ao seu plano de governo. Anunciou nesta segunda-feira um corte de Cdn$2 bilhões no orçamento, apesar do superávit de $13 bilhões obtido até aqui. Com isso, alguns programas do governo recebem cortes ou simplesmente deixam de existir. Afinal, o dinheiro tem que sair de algum lugar. E os projetos considerados de menor importância simplesmente vão pro espaço. Na verdade, os conservadores sempre criticaram os programas que agora estão sendo cortados. Em sua maioria, estes programas haviam sido implementados pelos liberais. Como agora surgiu a chance dos conservadores adaptarem os programas à sua linha de raciocínio, nada mais natural que aprovassem os cortes.

No que diz respeito aos brasileiros, talvez a decisão de maior impacto seja o fim do programa que devolve o imposto pago em certas compras aos turistas quando de sua saída do Canadá. Quando saíam do país, essas pessoas podiam pedir o reembolso do imposto GST pago nas compras (atualmente em 6%). Isso servia para que muitos donos de comércio usassem o reembolso como forma de atrair turistas. Só com esse programa o governo espera economizar quase $80 milhões. Segundo os conservadores, menos de 5% dos visitantes pediam o reembolso de qualquer forma.

Talvez pior tenha sido o corte pela metade no dinheiro que era usado para ajudar jovens sem experiência a encontrar emprego. A economia de $55 milhões reduz pela metade o programa criado para dar subsídios a empregadores que contratassem alguns jovens que não teriam como encontrar emprego sem ele.

Agora os gastos com as operações militares pra manter o Canadá no Afeganistão... Esses continuam a pleno vapor.

- Para ler mais sobre o assunto, veja a matéria que o jornal Globe and Mail publicou sobre o assunto (em inglês).

Um show de guitarras

Realizei mais um sonho neste domingo, e fui assistir ao show do Eric Clapton aqui em Toronto, no Air Canada Centre. Um espetáculo! O show de guitarras de Clapton faz com que fique difícil acreditar que ele já passa dos 60 anos. A habilidade que tem é a mesma de quase vinte anos atrás, quando o vi durante uma turnê que fez ao Brasil. De lá pra cá ele recuperou muito de sua fama, e incorporou algumas músicas clássicas ao seu repertório com CDs como o Acústico da MTV e o fantástico dueto com B.B. King.

O ginásio estava completamente tomado, com gente de todas as idades (desde pessoas mais velhas que o próprio Clapton até outras que não tinham nem nascido quando o Brasil foi tetracampeão de futebol no Estados Unidos, em 1994). Apesar de estar montando um disco novo, Clapton preferiu dedicar o show aos seus clássicos que o público em geral já conhece, e com isso conseguiu agradar a maioria dos presentes. Claro que o show aconteceu em sua maioria no modelo canadense, com todos sentados no máximo mexendo a perna e batendo palmas. Até preferi assim. Só que quando ele emplacou as primeiras notas de Layla, Cocaine e Crossroads (este no bis), o pessoal da pista não quis nem saber e começou a dançar. O show também foi marcado por uma série de solos de guitarra de Clapton e dos outros integrantes de sua banda (às vezes achei um pouco exagerado tanto destaque para os outros membros por mais de uma vez, mas acho que se fez necessário para que Clapton pudesse descansar um pouco). No fim, duas horas de show da mais alta qualidade.

E só depois que fiquei sabendo que o show quase não aconteceu. Clapton estava se recuperando de uma dor de garganta forte que inclusive forçou o cancelamento do show que faria em Detroit no sábado. Se encheu de remédio e pastilha pra garganta e conseguiu se apresentar em Toronto. Ufa. Essa foi por pouco!

Fall

Começou o outono aqui pelo hemisfério norte. Ou Fall, como dizem por estas bandas. Fall por causa das folhas que caem - depois de mudar de cor, em um dos mais belos espetáculos da natureza canadense. Fall por causa da temperatura que também já começa a cair e chegar a um dígito de madrugada e de manhã (6 ou 7 graus, por exemplo). Fall talvez por causa do ânimo das pessoas, sem dúvida mais abatido que há algumas semanas em pleno verão.

Aliás, acho um exagero as pessoas já começaram a ficar de baixo astral desde já, na antecipação do inverno que vem pela frente. Já começam a aparecer no metrô, no ônibus, no supermercado ou no trabalho. Ranzinzas. Deveriam estar ainda felizes pelo verão que mal se foi, e ainda pode voltar para uma tarde ou outra mais agradável. Ou curtindo o momento da mudança de estações, sabendo que o outono não é tão frio assim e na verdade é uma das épocas mais legais pra se passar por aqui - na minha opinião, claro.

Sofrer por antecipação do inverno é perda de tempo, a meu ver. Mesmo porque o inverno faz parte dessa rotação de estações tão marcante que se vê por aqui, e que de uma forma ou de outra permite que possamos viver quatro cidades um pouco diferentes uma da outra durante o mesmo ano, sem sair do lugar. Não quero nem ver a cara desse pessoal de mal humor quando estivermos em março, depois de uns cinco meses sem saber o que é um "calor" de dez graus positivos.

Poderosos chefões

A cena é clássica de filmes americanos que tentam retratar a máfia. Um restaurante pequeno, geralmente vazio, tem uma mesa ocupada perto dos fundos. Lá, algumas pessoas bem vestidas, de terno, apreciam uma refeição ou simplesmente um café. Entre os bem vestidos está um que parece ser o líder, o chefão. Apenas alguns capangas rodeiam a mesa ou sentam estrategicamente perto da entrada, como que para vigiar o movimento.

Ao chegar em Toronto, fiquei curioso ao ver alguns restaurantes muito parecidos com o descrito acima em certas regiões da comunidade italiana da cidade, a Little Italy. Me perguntava como um restaurante que ficava tanto tempo vazio podia se sustentar à base de uns fregueses mingüados que nem sempre pediam uma refeição completa. Claro que não ficava vigiando o local, apenas era a impressão que me dava por sempre passar perto do restaurante e vê-lo vazio. De repente é um restaurante de fachada, da máfia, pensava com meus botões, crente que era um exagero buscado simplesmente para dar uma "emoção" a um fato aparentemente sem maior importância.

Pois não é que vejo o jornal de hoje e na capa há uma história sobre como seis chefões da máfia que inclusive são procurados na Itália estão vivendo tranqüilamente no Canadá. E o chefão que aparece na foto da capa inclusive está saindo de um restaurante de sua propriedade. Hehe, a ficção encontra a realidade, mais uma vez.

Com relação a história em si, parece que a polícia local até monitora as atividades dos suspeitos, mas não pode fazer nada a não ser que o governo dos dois países cheguem a um acordo pedindo formalmente a extradição dos investigados. Como isso não aconteceu até agora, eles vão ficando.

Por via das dúvidas, quando for a um restaurante italiano não vou reclamar de nada.

Pra ler a estória do Toronto Star sobre o assunto, clique aqui (texto em inglês).

Lanchonete ambulante

Uma tradição de várias cidades norte-americanas, inclusive Toronto, é comer lanches rápidos vendidos em furgões equipados com cozinha, geladeira, etc. Esses mini-caminhões são bem comuns principalmente no centro da cidade, na área financeira, onde executivos apressados às vezes têm que se virar para fazer uma boquinha no meio do expediente. Nada mais prático e rápido que um cachorro-quente ou um hambúrguer servidos ali na rua mesmo, sem necessidade sequer de se entrar em um restaurante fast food.

Claro que não é possível encontrar de tudo nesses restaurantes móveis, já que eles não são tão grandes assim. Mas a variedade é até grande, com vários tipos de sanduíche, batata frita, refrigerantes e sucos, a famosa 'poutine' - uma bomba calórica que reúne batata, queijo, gordura animal e molho, que deve ser suficiente para sustentar uma família de quatro pessoas por uma semana. Há também os simpáticos caminhões de sorvete, bem populares principalmente no verão, e que ou ficam estacionados perto dos caminhões que vendem sanduíche ou então ficam rodando as vizinhanças oferecendo as guloseimas para as crianças.

Com clientela fiel e visitas freqüentes durante toda a semana, alguns desses caminhões viram verdadeiras referências perto dos locais onde estão estacionados. Esta semana, o Toronto Star trouxe inclusive uma matéria sobre um vendedor que está no mesmo endereço há 30 anos, perto do cruzamento da rua King com a Yonge, bem no centro da cidade. Isso é muito mais tempo que muito restaurante chique e estabelecido da cidade. Quando ele chegou lá, em 1976, muita gente que hoje freqüenta sua barraquinha sequer era nascida.

Infelizmente, no entanto, parece que os clientes vão ter que arrumar um outro lugar para comprar sanduíche. Um hotel abriu perto do lugar e pediu para a cidade que a ruela onde o caminhão se estabeleceu passasse a ser de mão dupla, ao invés de única, para facilitar o acesso de seus hóspedes ao hotel. Com a mudança, ficaria inviável para o caminhão permanecer no mesmo local, devido ao aumento do tráfego. Com isso, ele deve sair de lá em breve e ser deslocado para outro local, ainda indefinido. O dinheiro, como sempre, fala mais forte que a tradição.

Para saber um pouco mas sobre essa história, veja a matéria do Toronto Star sobre a remoção do caminhão de lanches.

Fumar pode, mas só lá fora

Uma das coisas que gostei muito desde que cheguei ao Canadá como imigrante há quase três anos é a proibição de se fumar em lugares públicos e fechados, como bares, restaurantes e shoppings. Não sei como é no resto do Canadá, mas pelo menos em Toronto não pode. Não tenho nada contra os fumantes, desde que eu não seja obrigado a fumar junto. E acredito que a proibição de fumo em lugares públicos seja correta exatamente porque nesses lugares o fumo do cigarro acaba atingindo até mesmo quem não fuma.

Ainda lembro de quando visitei o país em 1999 e, ao voltar para o hotel depois de uma noite em um bar, tive que tomar um longo banho para tirar o cheiro de cigarro que havia se impregnado em minha roupa, cabelo, pele. Como os bares e restaurantes daqui são preparados para o inverno, quando você ficava dentro de um destes estabelecimentos e as portas e janelas estavam fechadas era como se você estivesse em uma câmara de gás. Sério! Meus cálculos totalmente amadores e não-científicos me dizem que eu devia fumar o equivalente a dois maços de cigarro cada vez que passava umas quatro horas dentro de um bar - isso sem colocar um cigarro na boca.

Esta semana ocorreu um fato interessante no Festival de Cinema de Toronto, quando o ator Sean Penn foi flagrado fumando dentro de uma das salas de conferência de um hotel do centro da cidade, onde estava sendo realizada uma entrevista coletiva sobre seu último filme, All the King's Men. O ator acabou sendo apenas advertido, para não gerar um mal-estar. Se fosse um mero mortal comum e não uma celebridade, seria multado. Agora quem deve receber a multa é o hotel. Mesmo sem multar o infrator, acho que a estória ajudou a divulgar ainda mais a mensagem de que é errado fumar em lugar público, seja lá quem você for. Os pulmões agradecem.

Falsificadores corajosos

Malandro e esperto (na concepção pejorativa do termo) existem em todo lugar, e o Canadá não é exceção. Na minha opinião, o que às vezes pode impedir que uma pessoa com tendências não muito honestas siga em frente com suas intenções no Canadá é o medo da punição. Claro que há outras coisas que influenciam, como educação e conscientização da população em geral, mas isso só não é suficiente para controlar todo mundo.

Mas não é que mesmo com punições severas tem gente que ainda se arrisca para tentar se dar bem? A polícia de Toronto está atrás agora de 120 pessoas que são acusadas de estarem envolvidas com o uso de passes de transporte falsificados, que permitem ao usuário locomover-se ilimitadamente pela cidade por um mês inteiro (e que custam $99 se forem comprados os verdadeiros). No início do ano já prendeu mais gente que falsificava passes - que parecem moedinhas - que permitem uma viagem única.

O pessoal também está alertando quem comprar passes suspeitos que, se forem pegos usando essas falsificações, os usuários também podem ser punidos. E a punição máxima para falsificação por aqui chega a 15 anos. Portanto melhor se garantir e comprar sempre seu passe nas cabines autorizadas. Nada de querer dar uma de esperto para economizar alguns trocados, correndo o risco de uma severa punição mais tarde, né?

Pelé em Toronto

E parece mesmo que o Rei Pelé vem a Toronto no mês que vem para participar de uma promoção de um canal esportivo local e da Rogers. Segundo um comunicado da Gol TV Canada, eles vão sortear cinco de seus assinantes para comparecerem a um evento exclusivo, em local ainda indeterminado, em Toronto, com a presença de Pelé.

Muito surreal a idéia de sempre ter conhecido o atleta do século XX, mas nunca ter tido a chance de encontrá-lo no Brasil, apenas para poder vê-lo em um país sem a menor tradição futebolística, onde o esporte mais popular se joga com patins e sobre o gelo. Se bem que, com a presença cada vez maior de imigrantes que curtem futebol, pelo menos a exposição ao esporte mais popular do mundo é muito boa, com a transmissão dos principais campeonatos do mundo.

A GolTV, por exemplo, passa exclusivamente jogos de futebol, e do mundo todo. Desde clássicos hondurenhos até o Campeonato Espanhol e Italiano, passando pelo Campeonato Brasileiro. Não estou fazendo propaganda (pelo menos não estou ganhando pra isso), mas se alguém se interessar e quiser ter a chance de encontrar o Pelé em pleno Canadá, pode visitar o site da GolTV Canada para saber mais sobre esta promoção.

Tiroteio em Montreal

E essa agora? Parece que houve um tiroteio esta tarde em Montreal, no prédio de uma faculdade. Quatro pessoas teriam sido feridas, duas em estado grave, e um dos responsáveis pelo tiroteio poderia ter sido morto pela policia, segundo informações preliminares da imprensa local.

Uma pena acontecer isso aqui no Canadá. Algo próximo ao acontecido tantas vezes em escolas americanas. Fica irônico ver isso depois de o Michael Moore criticar os Estados Unidos justamente ao mostrar como no Canadá as pessoas não tinham a fixação por armas que os americanos aparentavam ter no filme.

Mas como é impossível generalizar e loucos existem em todos os lugares, está aí mais uma história triste pra se contar. Só espero que os feridos se recuperem, e consigam mesmo prender o(s) responsável(eis), se é que ele já não foi morto como disseram alguns repórteres.

Mais informação no site da CBC, em inglês. Ou no site da SRC, em francês.

---
ATUALIZAÇÃO: Parece que eram três os atiradores, e dois foram mortos na ação policial que se seguiu ao tiroteio. Dezesseis pessoas ficaram feridas, e não quatro como inicialmente informado. Mais informações continuam sendo atualizadas nos sites que mencionei acima.

ATUALIZAÇÃO 2: Ao final parece que era mesmo somente um atirador, que foi morto pela polícia. Uma mulher também foi morta durante o tiroteio e 19 pessoas ficaram feridas. Na TV e jornais não se fala em outra coisa. Realmente algo muito triste.

Contrato de alto risco

Como já tinha comentado com vocês, gosto bastante de assistir as partidas da Liga Norte-Americana de Hóquei no Gelo, a NHL. Esta semana, a maioria dos times volta a reunir-se para fazer a pré-temporada, com vistas ao campeonato que começa em outubro e vai até junho. No ano passado, o campeão foi o Carolina Hurricanes, que na final derrotou o time canadense do Edmonton Oilers.

Mas a notícia que balançou o pessoal da liga esta semana foi a decisão de o New York Islanders de assinar um contrato de 15 anos com seu goleiro, Rick DiPietro, no valor total de US$ 67,5 milhões. Isso mesmo, não errei nem no número de anos nem no valor total do salário. Em um esporte onde a maioria dos contratos é feita por 2 ou 3 anos, e o teto fica em torno de US$ 7,5 milhões por ano, o negócio dos Islanders surpreende.

DiPietro vai receber uma média de US$ 4,5 milhões por ano, o que pode ser considerado um belíssimo negócio se ele se tornar um dos melhores goleiros da liga. Afinal, o goleiro mais bem pago atualmente recebe US$ 6,5 milhões por ano. Mas o problema é que o goleiro tem seu contrato garantido pelos 15 anos, mesmo que se machuque e fique um ano inteiro parado ou seja forçado a se aposentar por causa de uma contusão mais séria. O único jeito de não receber a bolada é se decidir se aposentar por alguma outra razão.

Fica a expectativa para vermos se quem terá razão: a direção dos Islanders ou os 29 outros times que acham que o pessoal de Long Island ficou simplesmente maluco.

Cartão de residente permanente

Há um tempinho atrás achei que tinha perdido meu cartão de residente permanente. Esse cartão é o seu documento mostrando que você está legalmente no Canadá, e sem ele não é possível voltar ao país ou tirar alguns documentos por aqui. Por sorte não precisei dele nesse tempo, mas agora que planejo viajar ao Brasil no fim do ano e fui checar minha documentação não conseguia encontrá-lo de jeito nenhum.

Por sorte, depois de revirar a casa toda encontrei o bendito junto de outros documentos importantes. Até sabia onde esses documentos estavam, mas não me lembrava de ter deixado o cartão lá também. Desorganização é uma praga.

Mas voltando ao assunto do cartão de residente permanente, se você é um novo imigrante não precisa se preocupar muito com ele, já que a taxa para a confecção do cartão está incluída no dinheiro pago ao consulado durante o processo. Quando você entra no Canadá pela primeira vez com seu visto de imigrante, o oficial confere tudo e pergunta se você tem um endereço para onde o cartão pode ser enviado. Se não tiver precisa avisar a imigração assim que possível, para que eles possam te enviar o cartão quando ficar pronto.

Ah, e eles analisam a foto que foi enviada pro consulado e que está anexada à papelada que você entrega na chegada. Se não estiver de acordo com umas medidas pré-determinadas, tiram uma foto sua na hora mesmo, para usá-la no cartão. Dá pra imaginar minha cara de cansado, depois da viagem do Brasil pra Toronto, tirando uma foto às 6 da manhã? Pois é justamente essa a foto que me acompanha em meu cartão de residente permanente (os psicólogos ainda vão dizer que tentei perder meu cartão de propósito, ainda que inconscientemente).

Devolvendo o casco

Vocês se lembram quando ainda não existiam garrafas de plástico para refrigerantes e nem as não-retornáveis para cerveja? Sim, naquela época era preciso levar os cascos vazios para o supermercado para ganhar um cuponzinho que permitia comprar número igual de garrafas com o líquido dentro. Quem não tivesse casco tinha que pagar um valor maior, que incluía o preço da garrafa.

Pois aqui no Canadá existe algo semelhante. Pelo menos em Ontário, você paga 10 centavos de depósito para cada garrafa ou lata de cerveja que compra nas chamadas Beer Stores, que são as lojas onde você pode comprar cerveja por aqui. Depois, quando você volta para a loja com as garrafas vazias, ganha de volta seus 10 centavos por garrafa.

Notem acima que em Ontário só é possível comprar cerveja nessas lojas ou nas lojas da rede LCBO - Liquor Control Board of Ontario -, que também vendem vinhos, destilados e outras bebidas alcóolicas. Algumas cervejas vendidas na LCBO também têm em seu preço o depósito de 10 centavos incluído, e podem ser levadas para as lojas de cerveja para retorno.

A província agora vai ampliar o leque de produtos no qual um depósito por casco é cobrado. Os vinhos e destilados também devem entrar nessa a partir de fevereiro, mas o preço ainda não foi definido (alguns estimam que pode chegar a até $1 por garrafa). A idéia é forçar o consumidor a levar as garrafas para as lojas de cerveja para que possam ser recicladas ou reutilizadas, reduzindo assim seu impacto no meio ambiente.

Atualmente as garrafas de vinho e destilados são recicladas por meio do sistema de coleta semanal das "caixas azuis", que são levadas para centros de reciclagem e onde o vidro é separado. Porém, como o processo não é lá tão perfeito, muitas vezes as garrafas de vidro se quebram, e o vidro escuro se mistura com o vidro claro, o que impossibilita sua reciclagem (a separação dos pedaços de cacos seria muito custosa). Com o retorno das garrafas para as lojas de cerveja, o governo espera reduzir essa perda com garrafas quebradas, e aumentar o número de cascos reutilizados ou reciclados.

Particularmente, acho a idéia legal. Às vezes é preciso lembrar que a praticidade na vida moderna não é tudo, e o meio ambiente ainda precisa ser lembrado de vez em quando. Só falta inventarem agora um centro de reciclagens de fraldas descartáveis usadas. Essas sim, devem ter um impacto bem forte no meio ambiente.

Eleição para senador

Na hora de escolher seu candidato você precisa se preocupar com seu deputado, vereador, governador, presidente, etc, não? Bom, pelo menos no Canadá não é preciso se preocupar com tanta coisa assim. Nas eleições federais você escolhe o representante na Câmara baixa do parlamento, que seria como a Câmara dos Deputados no Brasil mas com o nome aqui de Câmara dos Comuns. Com base no número de representantes de cada partido na Câmara dos Comuns (de um total de 308), escolhem o primeiro-ministro (o líder do partido que ganhou as eleições).

Mas o parlamento canadense também tem sua câmara alta, chamada por aqui - assim como no Brasil - de Senado. Os 105 membros não são eleitos, mas sim nomeados pelo governador-geral (representante da rainha) sob indicação do primeiro-ministro. E novas nomeações só podem ser feitas quando abre uma vaga. Antigamente os cargos eram vitalícios, mas atualmente os senadores são obrigados a se aposentar aos 75 anos. Quem é nomeado jovem fica literalmente décadas no cargo. O senador Michael Fortier, por exemplo, foi nominado em fevereiro deste ano e está com sua aposentadoria marcada - se não mudarem as leis - para 10 de janeiro de 2037. Afinal, ele está atualmente com 44 anos, e só completa 75 daqui a 30 anos e meio.

O atual primeiro-ministro Stephen Harper quer mudar isso. Segundo declarações dadas recentemente à imprensa local, ele quer que o Senado passe a ser eleito pela população também, o que faria com que os cargos durassem o mesmo período que o dos demais membros do parlamento. A idéia pode até ser boa, mas não caiu muito bem para Harper o fato de o Senado atual ter cerca de 60% de seus membros ligados ao Partido Liberal, opositor do atual governo conservador.

Os senadores, claro, já disseram ser contrários à medida. Harper diz que não está nem aí e vai aprová-la em tempo para as próximas eleições, seja lá quando forem (no Canadá não há um período fixo entre eleições, que acontecem sempre que o primeiro-ministro orienta a dissolução do parlamento e realização de novo pleito). Essa estória ainda vai dar pano pra manga.

Para saber mais sobre o Parlamento canadense, vale uma visita até seu site oficial.

Supermercados

Lendo um post no blog do Rogério e da Luci lembrei de um tópico que queria mencionar antes por aqui. Os supermercados canadenses. Pelo menos aqui em Toronto, há uma grande variedade de produtos e também de preços, dependendo do supermercado ou da região.

De forma geral, todos os supermercados têm produtos em promoção durante uma semana inteira, e divulgam quais são esses produtos em jornaizinhos que são distribuídos nas casas ou ficam na entrada do estabelecimento. Em casa costumamos sempre dar uma olhada nas ofertas da semana para não perdermos nenhuma oportunidade muito boa nos supermercados que temos perto daqui.

Para frutas da estação e produtos industrializados costumamos ir ao No Frills aqui perto de casa, que traz uma seleção razoável também de alguns produtos portugueses e latinos, como mandioca congelada e até Neston (que em Portugal tem o nome de Nestum, que é o que é trazido pra cá). Mas em outros bairros o supermercado oferece produtos mais voltados para a comunidade local, como chineses ou ucranianos, para citar apenas alguns. Em geral os preços dos produtos industrializados e das frutas e verduras são mais baratos dos que os encontrados em supermercados mais organizados e com maior variedade, como o Loblaws (que aliás é o dono do No Frills) e Dominion. Uma outra opção para comprar mais barato é o Price Choppers, que assim como o No Frills não é tão organizado nem tem tanta opção de marcas e variedade de produtos.

Em geral vamos comprar carne, frango ou peixe no Dominion, que quase sempre tem preços razoáveis e uma variedade boa de tamanho dos pacotes para esses itens. O problema é que dependendo da semana o tipo de carne oferecido varia, então se você é daqueles que sempre gosta de comer o mesmo tipo de carne talvez esta não seja a melhor opção.

Além destes há ainda outras redes como o Food Basics e A&P (dos mesmos donos do Dominion), IGA e Sobeys (do grupo dono do Price Chopper), mas como esses não ficam tão perto de nossa casa não sei dizer bem como são. Espero que tenha ajudado, mas não deixem de dar uma olhada nos sites e promoções que estão "em cartaz" para ter uma idéia melhor sobre os preços.

Festival de cinema

Começa amanhã o Festival Internacional de Cinema de Toronto. São mais de 300 filmes do mundo todo, sendo que cerca de 100 fazem sua estréia mundial durante o evento. Tem até filme brasileiro. Vale a pena checar o site e ver o que vai acontecer por aqui.

Infelizmente não vou assistir aos filmes. Achei os preços um pouco salgados (cerca de $20 pra filmes normais ou $40 pra filmes de gala), e não penso que valha a pena. Tudo bem que há sempre o glamour de estar entre astros da sétima arte. Mas como o bom mesmo são as festas que acontecem depois das exibições dos filmes, e o ingresso normal não dá direito a esses eventos posteriores, vou esperar pra assistir os filmes depois mesmo. A não ser que ganhe algum concurso pra ir ver algum.

Pra onde vai meu lixo?

Uma coisa bem legal daqui de Toronto é a coleta seletiva de lixo instalada na maioria dos bairros e prédios residenciais. Você separa o lixo seco reciclável - papel, garrafa, plástico, lata - pra um lado, lixo orgânico como restos de comida, frutas, flores pro outro e o restante em outro. Daí você coloca seu lixo pra coleta no dia predeterminado e pronto.

Confesso que preciso de um mini-calendário pra lembrar os dias certos de coleta, pra evitar de ficar com lixo dentro de casa e também não colocar fora no dia errado (afinal, podemos ser multados se fizermos isso). No final tudo dá certo e é uma forma legal de tentar reduzir o impacto ambiental que nossos hábitos modernos de consumo geram.

Mas esta semana voltou à tona uma questão específica aqui pra região de Toronto. Pra onde vai o lixo residencial da cidade? Um acordo com o estado norte-americano do Michigan permite que a cidade envie seu lixo pra lá, mas esse acordo está com os dias contados. Ontem chegaram a um acordo para terminar esse envio de lixo nos próximos quatro anos. Até lá a cidade vai ter que descobrir um jeito de se livrar dessa lixarada. Vem mais centros de reciclagem, usinas para queima do lixo e geração de energia ou mesmo os ruins e velhos lixões.

Nada bom pra população local, mas pelo menos dá um tempo para se pensar em soluções alternativas. A outra proposta de uns senadores de Michigan era a de proibir imediatamente o envio de qualquer remessa de lixo de Ontário pra lá. Então já estamos no lucro.